Quando, em 1999, acrescentei mais uma singela linha ao meu humilde curriculum de médico de família provinciano, então já ancião na categoria de assistente graduado concursado e inscrito no respectivo Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos, cumprindo, com inusitado orgulho, o expatriamento para Timor, sob a alçada do Ministério dos Negócios Estrangeiros, estava longe de imaginar que em 2011 veria repetir, em Portugal, as propostas de soluções preconizadas pela OMS para os países pobres, em vias de desenvolvimento, subsarianos ou em transição de catástrofes, implacáveis guerras ou ocupações beligerantes.
Naquele cenário, em que um sorriso agradecido tudo nos fazia esquecer, a OMS e a Cruz Vermelha Internacional, acautelados os cuidados aos expatriados e cooperantes de ONG’s, definia, com pragmática crueza, o destino organizativo daquele povo carente em matéria de Saúde - low level medicine – ou seja, os parcos médicos como consultores e orientadores de políticas macro e outros prestadores, incluindo enfermeiros, na administração directa de cuidados e prescrição de medicamentos.
Hoje assisto, incrédulo, ao recrudescimento em Portugal de defensores da low level medicine, temperados e acicatados por ventos repressores de legitimidade de combate a interesses corporativos.
A Ordem dos Médicos, saída de um comprometedor afastamento da realidade social, necessita, com urgência, de reenquadrar os médicos como detentores do saber, disponíveis a qualquer escrutínio, abertos a auditorias, exigentes com a formação médica contínua, implacáveis com as derivas deontológicas dos seus pares e, sobretudo, pouco disponíveis para degradar o exercício técnico da Medicina e da Formação Médica, reduzindo as equipas nos Serviços, nos Blocos e nas Urgências.
Nesta semana tivemos dois bons exemplos de low level medicine: médicos em cargos de nomeação política a chamarem aldrabão e mentiroso ao Bastonário da Ordem dos Médicos (na Madeira) e os Enfermeiros que elegem a prescrição medicamentosa como uma das suas principais preocupações no Congresso da respectiva Ordem.
Sendo um optimista, mesmo que etiquetado de “clínico geral de Peniche, sem carreira médica conhecida” pelo meu colega António Almada Cardoso, especialista em Cardiologia e presidente do CA do Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira, tenho séria esperança que a nossa Ordem dos Médicos actue com firmeza e o faça em tempo.
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