Durante meses fomos bombardeados com uma lógica ideológica causa efeito irrefutável: a esquerda defende o SNS, a direita, através da privatização, apenas pretende desmantelá-lo.
Durante anos assistimos a juras ao SNS e a um imobilismo estúpido. Qualquer tentativa de mudança por via de racionalização de recursos ou de oferta de serviços era entendido como um ataque ao âmago, ao sagrado. Venderam-se loas e martelaram-se números. Esconderam-se défices obscenos. Mentiu-se descaradamente sobre a falência dos Centros de Saúde e o avassalador crescimento de utentes sem acesso a Médico de Família. Chutou-se borda fora a experiência e a competência dos médicos portugueses em troca de indiferenciados da América Latina. Susteve-se reforma para não atrapalhar candidaturas a deputados de quem deveria ser executivo.
Agora um Governo de coligação de partidos à direita do espectro político e um Ministério da Saúde onde pontificam, segundo a imprensa, homens conotados com a Opus Dei, ambos zelosos no cumprir de compromissos rubricados com entidades financeiras e políticas internacionais, decidem, em dois singelos meses:
- acabar com a experiência das PPP na área da Saúde e reavaliar as existentes
- racionalizar a capacidade instalada no SNS quanto a Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica, dando uma machadada de dimensões ainda difíceis de calcular nos convencionados
- fazer um cerco à prestação de serviços no SNS
- introduzir Normas de Orientação Clínica
- obrigar à redução das horas extra o que levará, obrigatoriamente, ao encerramento e fusão de serviços, incluindo Urgências
Não sabemos o que se seguirá embora o guião seja conhecido.
Todas as medidas listadas defendem objectivamente o SNS e foram tomadas por quem foi acusado de o ir destruir.
Conhecem, na História recente, maior ironia ideológica?
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