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Sindicato Independente dos Médicos

Greve no Hospital de Braga - Comunicado do SIM

24 maio 2013

Os médicos do Serviço de Anestesiologia do Hospital de Braga têm chamado a atenção da Comissão Executiva, desde há cerca de dois anos, para diversas disfunções organizacionais, problemas laborais relacionados com planos e horários de trabalho, e situações de assédio psicológico dos médicos menos acomodados, tudo isso traduzindo-se em potenciais danos para os doentes que lhes são confiados.

O alheamento da Comissão Executiva para a resolução dos problemas enunciados, obrigaram os citados médicos, através do Sindicato Independente dos Médicos, a recorrer a uma greve que se realizará nos dias 30 e 31 do corrente mês.

Pretendem desta forma que, de uma vez por todas, a Comissão Executiva encare seriamente os seus alertas e reivindicações, e dê uma resposta cabal que possa obstar a que se continue a verificar o adiante descrito. Dir-se-ia que os 10 dedos que anestesiam apontam 10 razões para uma greve.

1. Situações de risco potencial para os doentes, bem como cancelamentos de cirurgias evitáveis, resultantes de agendamentos cirúrgicos feitos sem preocupações com a efectividade dos cuidados assistenciais (agendamentos normalmente realizados por um "gestor de produção", que não é médico).
O aumento verificado no número de intervenções cirúrgicas em 2012 poderia ter sido maior, se tivesse sido possível evitar cancelamentos na véspera ou no próprio dia previsto para a intervenção, de doentes incompletamente estudados e, portanto, por "falta de condições cirúrgicas", por "falta de condições anestésicas" ou ainda por alegada "falta de tempo operatório", processos de agendamento e planeamento operatório estes merecedores de uma auditoria por entidade independente para que se possam tirar conclusões fundamentadas sobre a realidade das taxas de cancelamentos de doentes no bloco operatório;

2. Situações de risco potencial para os doentes, resultantes da circunstância de muitos procedimentos de Anestesia serem assegurados por médicos "tarefeiros" que se deslocam ao Hospital de Braga (não raras vezes residentes a centenas de quilómetros e atravessando Portugal de Sul a Norte), onde só comparecem no dia e à hora de inicio das intervenções, desconhecendo antecipadamente as condições clínicas dos doentes, o Serviço de Anestesia e o Bloco Operatório, bem como todos os serviços de apoio clínicos e não clínicos, não lhes sendo fornecidos os meios indispensáveis para poderem aceder ao processo clínico eletrónico nem, tão pouco, à aplicação de registo de toda a informação do procedimento anestésico;

3. Situações de risco para os doentes, decorrendo do exposto anteriormente e da falta comunicação/informação inter pares explicável pela falta de integração no Serviço dos referidos médicos, cujo recrutamento é feito ao dia, frequentemente através de SMS emanado de empresa de recrutamento, por "contrato" feito com o Hospital de Braga. Estes médicos “tarefeiros” desconhecem os processos de trabalho do Serviço com consequente falha na comunicação com os médicos da Unidade de Recobro, omitindo dessa forma informação clínica indispensável para a continuidade de cuidados; são frequentes os casos de doentes deixados nesta unidade sem conhecimento dos médicos que ali estão escalados, muitas vezes já depois desses tarefeiros terem abandonado o hospital. Acresce ainda o desconhecimento de comportamentos padronizados no tratamento de doentes que só pode ser garantido pela existência formal e funcional de Serviços coesos, impossibilitando assim a continuidade de cuidados nomeadamente no que diz respeito ao correto acompanhamento de complicações e da dor aguda pós-operatória;

4. Situações de risco potencial para os doentes por falhas ou grandes atrasos nos serviços de compras e/ou manutenção de equipamentos que deveriam estar permanentemente disponíveis no Bloco Operatório. A ausência de equipamentos de reserva já tem levado a cancelamentos, quando algum equipamento avaria ou não está em condições de utilização. Continuam em falta equipamentos fundamentais para a boa prática anestésica em segurança, nomeadamente a não aquisição de fibroscópio e vídeo-laringoscópio, material de monitorização de profundidade anestésica, de bloqueio neuromuscular e de monitorização e de débito cardíaco; 

5. Situações de risco potencial para os doentes cirúrgicos urgentes/emergentes, por imposição da realização de cirurgia electiva (cirurgia não urgente) em salas que deveriam estar alocadas exclusivamente à cirurgia de urgência/emergência (tanto em horários diurnos como nocturnos);

6. Desrespeito sistemático por horários de trabalho regulares dos médicos do Serviço de Anestesia, aprovados e publicados, nos termos das leis em vigor (dias e horários contínuos de trabalho variáveis, de semana para semana, aparentemente para permitir obter horários que facilitem o recrutamento de médicos tarefeiros), potenciando o cansaço físico e psíquico, e riscos inerentes;

7. Disfunções inevitáveis na formação de internos de especialidade, em consequência da descrita "engenharia" de construção e planeamento de horários, com repercussão no "desencontro" entre internos, orientadores de estágio e orientadores de formação;

8. Obstáculos à formação de médicos do Serviço, não autorizando as dispensas previstas na lei para frequência de diversos tipos de acções de formação, traduzidas em mais valias para o próprio Serviço e beneficio dos doentes por tratados por médicos com mais conhecimentos;

9. Assédio psicológico por parte de alguns médicos de outros Serviços que, por desconhecimento da realidade que se vive no Serviço de Anestesiologia, no Bloco Operatório e, provavelmente no próprio Serviço, apresentam deficites nos mais elementares princípios de respeito pela segurança dos doentes, bem como dos seus deveres deontológicos, nomeadamente desrespeitando a autonomia técnica de médicos do Serviço de Anestesiologia;

10. Desrespeito pela legislação da Carreira Médica, que prevê que a Direcção dos Serviços seja assegurada pelos médicos mais graduados e mais experientes, com garante da qualidade da prestação dos cuidados.

Registe-se que as situações elencadas não esgotam as causas da desmotivação e indignação generalizada que se vive no Serviço de Anestesia do hospital de Braga.

Pensamos, no entanto, que demonstram bem a razão que assiste aos médicos do Serviço de Anestesiologia do Hospital de Braga e a sua firme disposição de fazerem uma greve, algo que para os médicos será sempre a atitude última.

Poderão as populações servidas pelo Hospital de Braga ficar sossegadas porque os médicos anestesistas assegurarão não só todos os serviços mínimos como serão reforçados de acordo com critérios técnicos e de segurança para os doentes.

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