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Sindicato Independente dos Médicos

No País das selfies

26 outubro 2018
No País das selfies
E pronto.

Aconteceu o esperado.

Outubro, mês da inovação tecnológica e do progresso, pré mês da Web Summit é também mês da obrigatoriedade de marcação de consulta hospitalar na especialidade de Dermatologia com envio de imagem.

Tudo bem. Cumpra-se o desígnio de modernidade desenhado no MS pelo cessante SEAS.

Só que…

O Alert P1 já não nos dá acesso a marcação de consultas de Dermatologia. Só permite acesso a um pomposo Rastreio TeleDermatológico. Agora não há tempo a perder com a doente, hipoteticamente sem a higiene adequada a poder entrar num Hospital público. Acesso? Por foto, asséptica, fria e distante, sem aplicação da maravilhosa luz roxa própria da Especialidade, sem toque, sem perguntas, para além da informação dada no processo pelo médico de família, imitando imagiologia, cujas imagens percorrem mundo até a soturnos gabinetes indianos de onde se esperam diagnósticos para decisão sobre os nossos doentes.

Mais grave é que a ligeireza com que o Alert P1 baniu o acesso de médicos de família a ocupar o precioso tempo dos colegas hospitalares nem sequer foi compensado com os prometidos equipamentos de captação de imagens decentes para envio de algo mais do que uns pixéis manhosos, desbotados e desfocados para decidir se aquilo que nos perturba é maligno e urgente ou não.

O Governo, o Ministério da Saúde e as ARS bem sabem o fervor e amor que os portugueses têm às selfies. Ora se as tiramos e tão profusamente publicamos nas redes sociais porque não podemos usar o mesmo telélé para envio de fotos da pele dos nossos doentes, mesmo que nas partes mais próximas de pudorada intimidade, para que alguém, a dezenas de quilómetros, sobre elas opine?

É o que estão a fazer muitos médicos de família, espartilhados entre uma administração um pouco naif e os desgraçados dos doentes que não têm culpa que o SNS os considere como empecilhos.

Só que, como todos deviam saber, principalmente quem levianamente decide e por quem tem horror a doentes, fazer fotografia para ser útil em Dermatologia precisa de opção macro e luz adequada ou é gato por lebre.

E daqui resulta o óbvio. Com tanta simplificação e inovação quem vão culpar pelos basaliomas, pelas queratoses actínicas manhosas, pelas ulcerações mesmo com cheirinho a espino celular mas desfocadas?

Logicamente que a culpa cairá nos do costume – os médicos de família que nem sequer uma porcaria de uma foto sabem tirar.

Daí que se recomende que no separador do Alert P1 para a justificação da referenciação se coloque:

"Anexa-se imagem conforme obrigatoriedade criada pelo Despacho n.º 6280/2018.

Não sendo perito nem na captação, nem no tratamento da(s) imagem(s), menos ainda nas decorrências resultantes das plataformas eletrónicas envolvidas, não poderei assumir os efeitos deste ato, nomeadamente para efeitos de triagem e/ ou diagnóstico, sendo que o motivo de consulta deste(a) utente não foi o envio das imagens, mas a expectativa de obter consulta.
"

Viva a Dermatologia com selfies!!!
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