Público, 16 janeiro 2019, Manuel Alegre
Estive com António Arnaut até ao fim da sua vida na luta pela defesa do SNS, a maior reforma social da nossa democracia e uma causa de todos os que têm uma visão humanista e solidária.
Prometi-lhe que, dentro das minhas poucas possibilidades, tudo faria para o PS cumprir a sua obrigação histórica: uma nova Lei de Bases que restitua ao SNS os seus princípios fundadores e constitucionais.
Direito à saúde para todos, garantido pelo Estado através do SNS, que não pode ser colocado em pé de igualdade com o sector privado e o sector social.
Um SNS universal, de gestão integralmente pública, que se articule com as iniciativas privadas e sociais em termos de complementaridade e não de concorrência.
O SNS não pode continuar a ser drenado pelo sector privado, até não ser mais do que um serviço residual ou, como escreveu Arnaut, "um serviço público de índole caritativo para os mais pobres.”
O SNS perdeu muitos daqueles que foram os seus pioneiros e construtores. Uns por se terem reformado, outros porque foram para o privado. Faltam orientadores para os jovens médicos. Além do sub-financiamento crónico.
Eis o que não pode ser ignorado e tem de ser invertido, dignificando as carreiras e melhorando a remuneração.
Num dos seus últimos textos, António Arnaut lamentou o tempo perdido e manifestou a sua esperança de que todos os partidos dessem o seu contributo para uma nova Lei de Bases fiel aos princípios fundadores do SNS. Ainda estou a ouvi-lo ao telefone: "Faz o que puderes pelo SNS.”
Foi o que tentei. Mas a responsabilidade é de todos. O SNS é uma causa nacional.