Com a devida vénia ao autor desconhecido que postou isto numa rede social e com sugestão de reflexão profunda para os nossos políticos e governantes:
O João é médico.
O João fez o seu internato num hospital público do SNS.
O João vestiu sempre a camisola do seu hospital quando foi preciso.
O João dormiu muitas noites fora de casa, trabalhou 60 horas por semana muitas vezes, fez muitas urgências de 24 horas e assumiu sozinho muitas responsabilidades que não devia ter assumido.
O João fê-lo porque acreditava num serviço nacional de saúde de qualidade para todos.
O João fê-lo porque sabia que o hospital precisava que todos colaborassem para providenciar os cuidados básicos de saúde à população.
O João fê-lo também por influência dos seus colegas mais velhos, os quais sempre ouviu dizer que antigamente era muito pior e que agora ele não tinha nada que se queixar.
O João fê-lo porque acreditou que um dia, quando precisasse, iria receber por parte do hospital um agradecimento por todo o seu empenho e dedicação.
O João sempre foi uma pessoa sem grandes papas na língua e de sangue quente.
O João sempre acreditou que todos os serviços por onde passou podiam melhorar qualquer coisa.
O João sempre se esforçou para fazer parte da solução e não do problema.
O João nunca tolerou faltas de respeito por parte de ninguém.
O João sempre exigiu ser tratado com o mesmo respeito com que trata toda a gente, independentemente da profissão ou grau de diferenciação.
O João, logicamente, criou muitos inimigos bastante poderosos ao longo do seu internato.
O João percebeu, com o tempo, que a Medicina é como a política.
O João percebeu que, no fim do dia, a competência e o brio profissional de cada um pouco importam.
O João percebeu que para se chegar longe é preciso conhecer as pessoas certas, ter muito poder de encaixe e lamber muitas botas.
O João percebeu que estava sozinho no hospital onde trabalhava.
O João sentiu que o SNS foi, a pouco e pouco, desistindo dele.
O João foi também, a pouco e pouco, desistindo do SNS.
O João, certo dia, teve uma epifania e percebeu que estava cansado de sacrificar o seu bem-estar e felicidade por uma instituição que não o respeitava.
O João, certo dia, teve uma epifania e percebeu que de nada servia o seu esforço para mudar o rumo do seu hospital e do SNS.
O João, certo dia, saiu do SNS.
O João saiu de cabeça erguida, sabendo que fez todos os possíveis para que a coisa resultasse.
O João sabe que não deve rigorosamente nada a ninguém.
O João perdeu o SNS.
Perdão, o SNS é que perdeu o João.(in
Pérolas da Urgência, Facebook)