Público, 25 novembro 2019, Alexandra Campos
Aos 65 anos, a fazer urgências há quatro décadas, apesar de a idade a ter dispensado disso há muito (os médicos podem não fazer urgências a partir dos 55 anos e, aos 50, passam a estar dispensados à noite), Nídia Zózimo é peremptória: a urgência do Santa Maria (unidade integrada no Centro Hospitalar de Lisboa Norte), uma das maiores do país, "nunca esteve tão mal como agora”.
Este é um "caso extremo”: sendo um hospital de fim de linha, que recebe e trata os casos mais complicados e graves, está a garantir o atendimento com equipas compostas por apenas dois a três especialistas quando o mínimo deveria ser cinco ou seis, diz a médica.
Há doentes que esperam uma semana para serem operados. Alguns estão à espera 15 dias para fazerem TAC´s. Há macas no corredor, a sobrecarga é enorme. Chegamos ao ponto de os médicos terem de colher sangue aos doentes nalguns serviços. Estamos abaixo dos mínimos dos mínimos de qualquer hospital do mundo”, assume.
"Não percebo o silêncio. O Ministério da Saúde está em autismo completo. A senhora ministra faz-se de morta, o Governo faz-se de morto, o meu colega Pisco [Luís Pisco, presidente da Administração Regional de Saúde - ARS - de Lisboa e Vale do Tejo] está à espera que o assunto morra. Entretanto, podem morrer doentes por falta de condições”, dispara Nídia Zózimo.
"Não é com administrações fracas e com ARS completamente incompetentes que isto se resolve. Estou zangada com a senhora ministra, não seria de esperar que fosse tão inconsequente. Há uma comissão de reforma hospitalar, mas o que fez até agora? Os médicos estão desmotivados. Fazem medicina de campanha, de guerra, praticamente o dia todo. Se o ministério quer resolver estes problemas que chame quem percebe do assunto, mas depois vai ter que fazer sangue”, avisa.
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