Expresso, 30 novembro 2019, Vera Lúcia Arreigoso
Precisamos recuar até aos anos da crise em Portugal para somar tantos médicos a caminho de sistemas de saúde estrangeiros. Até ao final do ano, os pedidos de certificados para exercer medicina fora do país deverão ficar perto de 400, pouco menos do que o recorde de 475 registado em 2015. As razões de quem sai são variadas, mas há uma comum a todos: a degradação das condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O prognóstico da emigração médica poderá vir até a ser o mais negativo de sempre. Entre janeiro e agosto deste ano, e sem incluir os dados da região Norte — solicitados e sem resposta —, tinham chegado à Ordem dos Médicos (OM) 253 pedidos, 230 só na delegação Sul. A manter-se a média mensal de 32 solicitações, 2019 terminará com 381 saídas, a que se juntarão outras no Norte, com um número expressivo de profissionais. Contas feitas, não será difícil ultrapassar o valor mais elevado de sempre, as 475 saídas em 2015.
As opções para trabalhar fora do país não faltam e vão ser ainda mais. A Comissão Europeia estima que no próximo ano a Europa terá uma carência de 230 mil médicos. Ou seja, 13,5% das necessidades assistenciais dos europeus estarão por assegurar. Por exemplo, o atual primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já prometeu contratar seis mil médicos em 2020 caso seja reeleito. Entre os candidatos vão estar muitos portugueses, pois o Reino Unido tem sido um dos seus destinos de eleição.
Até os mais seniores emigramEntre os clínicos que informaram a Ordem sobre o local de destino, surgem outros países da União Europeia, como Alemanha, Irlanda, França ou Bélgica; mas também Suíça, Brasil, EUA, Canadá, Austrália ou até Suazilândia. Outro dado novo é que a emigração inclui agora profissionais em todas as fases da carreira, incluindo seniores com décadas de SNS.
O êxodo é tão diversificado e expressivo que a Secção Regional Centro da OM criou um gabinete de apoio aos médicos no estrangeiro.
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