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Sindicato Independente dos Médicos

Público: Testemunho de uma médica que fugiu do SNS

10 dezembro 2019
Público: Testemunho de uma médica que fugiu do SNS
Público, 6 dezembro 2019, Joana Bento Rodrigues

O período de consulta via-se preenchido com muito mais doentes do que o número previsto, o que, a par de desorganização de todo o sistema, se convertia em horas de espera desesperantes para os doentes e o constrangimento e vergonha por não conseguir dar-lhes resposta adequada e digna. Esta descrição repetia-se no serviço de urgência, onde 80% dos casos (não exagero!) não deveria ali chegar, pois seriam situações para acompanhamento nos Cuidados de Saúde Primários. Acrescia também a perceção de que não era possível proporcionar cuidados atempados e apropriados: solicitava uma ressonância magnética que demorava nove meses a um ano a realizar, com consequências irreversíveis e perda de oportunidade para prestar o melhor tratamento dirigido e oportuno.

Mas o mais penoso eram efetivamente as incontáveis horas de urgência, com fins-de-semana e feriados ocupados, que me tolhiam a liberdade a cada mês que passava. Foram muitas as ausências em várias festividades familiares. E foi precisamente no seguimento de horas dedicadas à urgência que percebi que não via a família. Prevendo-se a manutenção da situação precária, acrescida de todas as circunstâncias adversas no SNS, e na ausência de qualquer negociação possível em relação a essas mesmas condições, decidi abandonar o SNS. E, assim, vi-me obrigada a abdicar do sonho de uma vida e para a vida, lançando-me no desconhecido da prática privada, com todos os riscos associados, de quem não tinha qualquer rede ou desempenhava, na altura, funções fora do SNS.

Se recebi algum contacto telefónico, por carta ou outra via por parte da Administração Hospitalar, depois de entregar a carta de demissão? Não.

Ao sair do SNS encontrei propostas aliciantes, com possibilidade de diferenciação profissional e de prestar atendimento de forma digna, com melhores rendimentos, mais tempo para a vida pessoal e familiar e com melhoria substancial da qualidade de vida. Se pretendo voltar ao SNS? Quem sabe, no futuro, com outras condições. O meu coração ficou no SNS, infelizmente quem o governa parece não ter nele o coração.

Artigo completo em Público.

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