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Sindicato Independente dos Médicos

Traça no Covid

31 março 2020
Traça no Covid
A Direcção-Geral da Saúde lançou uma plataforma informática chamada Trace COVID-19 para recolha de dados de Saúde Pública num trabalho administrativo e de preenchimento de folhas de Excel a cargo dos Médicos de Família, a acrescer ao preenchimento de uma outra plataforma informática chamada SINAVE.

Mas... este Trace COVID-19 para que serve em termos práticos? Até porque acontece por todo o país isto que um Médico de Família beirão tão bem descreve:

Está um pobre MF sexagenário cheio de vontade de ajudar e esbarra numa loucura chamada Trace Covid.

Ontem, bem cedinho, já estava dentro da coisa. Muito simples através do correio electrónico institucional. Lista de 80 doentes da USP da Cova da Beira em vigilância. Vários parâmetros registados mas, curiosamente, sem endereço ou local de estada. Talvez por precaução e protecção de dados. Possibilidade de verificar o acompanhamento ou inicia-lo. Curioso que dos 80 a vigiar 1 tem teste positivo, 1 aguarda resultado e 78 aguarda exame.

Portanto é suposto acompanhar via telefone supostos doentes que supostamente um dia terão um suposto resultado de uma suposta doença viral. E é suposto que os Médicos de Família se entendam neste tormento.

Mas pronto. O momento é de emergência. Para a frente. Até me lembrei de slogans bem conhecidos. Estou mesmo a ver a Sra. Directora-Geral a dizer "médico de família amigo avança com toda a confiança”.
E eu, nascido e criado no princípio da obediência hierárquica, avancei.

Primeiro doente, copy paste para SClínico do número de doente. Surpresa. Trabalhava na Murtosa e vivia em Ovar. Acesso aos seus dados clínicos impossível. Segundo doente, Porto. Terceiro Maia. Um suorzito escorria já pela fitazinha da máscara cirúrgica que dá a voltinha na orelhinha. 10, 15, 20 doentes e nem um da zona, nem um da Cova da Beira, nem um dos "nossos” que conhecemos e a quem podemos ser uma mais valia.

Mas a surpresa ainda não tinha acabado. Nos únicos dois doentes que eram da zona, e nem eram da minha mas sim do Fundão, já diligentes enfermeiras de Lisboa tinham iniciado o acompanhamento.

Aí disse chega. Informei os meus colegas, tentámos todos, não fosse o sexagenário ser informaticamente menos preparado, e nada. Mesmo resultado mesma perplexidade.

Como é possível seguir os nossos doentes se não lhes temos acesso?

Como é possível segui-los se nem sabemos que foram para casa por ordem da Saúde Pública ou do SNS24?

Obviamente que isto vai correr mal e nos assusta ver que quem vai ao leme nunca esteve na frente de combate e não percebe nada dos programas informáticos que temos à disposição.

Imaginar seguir doentes com o programa da Traça sem interligação com o SClínico é loucura.

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