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Sindicato Independente dos Médicos

Ricardo Mexia: “Não é com conferências de imprensa que controlamos a doença, é com meios no terreno”

21 outubro 2020
Ricardo Mexia: “Não é com conferências de imprensa que controlamos a doença, é com meios no terreno”
Diário de Notícias, 21 outubro 2020, Ana Mafalda Inácio

Em julho alertava para a necessidade de se encontrar soluções que eram necessárias para se precaver o inverno e a gripe. Como, por exemplo, o atendimento na Linha SNS 24 de forma a dar-se mais resposta ao utente. Isto foi resolvido?
É triste constatar que há poucas diferenças em relação às necessidades que havia em março, em julho e agora. Por exemplo, em relação à Linha SNS 24 não fazemos ideia do que se passa. Não há dados sobre isso. Até ao dia 9 de março havia dados disponibilizados no Portal da Transparência do governo, mas desde que houve uma situação de rutura com milhares de chamadas que não foram atendidas e que o governo entendeu não disponibilizar mais tais dados, sabemos porquê mas não há justificação que assim seja. Tapar a realidade não ajuda a que ela se resolva.

Indo agora à fase que estamos a viver. Há alguma diferença no que se queixam os médicos de saúde pública?
A falta de meios é a principal queixa, no início da pandemia e agora. As pessoas que estão no terreno não têm mãos a medir para fazerem todos os contactos que têm de fazer e quebrar as cadeias de transmissão. Esta é uma prioridade e não há pessoas suficientes para o fazer, mas também não há linhas telefónicas suficientes, como não há um sistema de informação que seja ágil e que responda às suas necessidades. Por fim, os profissionais queixam-se de que não têm autonomia para fazerem o que deve ser feito.

Os médicos de saúde pública já não falam. Aliás, começam a optar por falar anonimamente para alertarem para algumas situações, mas o que quer dizer concretamente?
Que se um médico de saúde pública identifica um surto grande pode fazer sentido comunicar diretamente com a população, para que individualmente as pessoas tomem comportamentos mais adequados e saudáveis. No caso concreto de Paços de Ferreira, que está com uma situação de transmissão comunitária enorme, fazia todo o sentido que este alerta fosse lançado à população, em vez de ter de esperar que a ARS e a DGS validassem a informação.

Neste momento quais devem ser as prioridades da saúde pública?
A identificação dos casos e dos surtos, porque é desta forma que se quebram cadeias de transmissão. Identificar de forma rápida os casos e os seus contactos, para os colocar em isolamento profilático, é a única estratégia de combate à doença. Não estamos a inventar a roda. Agora, isto implica ter gente para o fazer, implica ter recursos humanos, linhas telefónicas, uma estratégia e uma coordenação operacional que, infelizmente, parece ser completamente inexistente.

C​​​omo reforçar agora os meios na saúde pública?
Andamos a dizer isto há meses: é preciso reforçar as unidades de saúde pública, é preciso colocar pessoas nos telefones e criar mais linhas telefónicas, é preciso dar ferramentas às pessoas para comunicarem com a população, é preciso ter capacidade de análise e liberdade e autonomia para implementar as medidas que sejam necessárias. Dissemos isto em março, em agosto e agora já em outubro. Mas continuamos à espera.

Entrevista completa em Diário de Notícias.
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