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Sindicato Independente dos Médicos

Sol: Médicos - “Estamos exaustos”

23 agosto 2021
Sol: Médicos - “Estamos exaustos”
Sol, 21 agosto 2021, Maria Moreira Rato

Fez a especialidade de Medicina Geral e Familiar na Unidade de Saúde Familiar (USF) do Cartaxo, no distrito de Santarém, e trabalhou dois anos como especialista na USF Salinas de Rio Maior. No entanto, em 2014, rescindiu contrato com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e integrou o grupo de 387 médicos que decidiram abandonar o país, segundo dados apurados pela Ordem dos Médicos. (...) Filipa Miguel, de 43 anos, em declarações ao Nascer do SOL, médica que viveu durante quatro anos na Suécia (...) «o ordenado líquido é quase três vezes superior àquele que se ganha cá e, apesar do custo de vida ser superior, tem-se um desafogo financeiro maior àquele que temos em Portugal a ganhar 1700 euros».

Além disso, «não tinha tantos doentes nem tantas consultas por dia e existiam, com alguma regularidade, reuniões em que se discutiam os problemas na unidade (...) não são colocados entraves quando os médicos pretendem fazer investigação ou reduzir o horário de trabalho por razões como o acompanhamento do crescimento dos filhos.

«Nunca me passou pela cabeça voltar para o SNS. Fui e vim e estava tudo na mesma, senão ainda pior (...) em Portugal, almoçava em cerca de 15 minutos e tratava de tarefas administrativas fora do expediente.

Quem corrobora a experiência de Filipa é Mara Marques, de 35 anos, que saiu do SNS no passado dia 9 de agosto. (...) «É um trabalho que atualmente está a ser muito ingrato. Temos muitos utentes por médico de família e listas de utentes com unidades ponderadas acima do que é estipulado.

«Outro ponto que há largos anos vem também assombrar aquilo que devem ser os cuidados de qualidade prestados aos nossos utentes são os tempos de consulta. O médico de família tem, muitas das vezes, apenas 15 minutos para ver um utente. É muito pouco.»

Além disto, a médica trabalhava sem ar condicionado, nem sempre tinha tinteiros na impressora (...) sendo que até o papel era racionado. (...) antes de se despedir, pediu uma reunião com a diretora executiva do ACES, desejando debater aquilo que se encontrava mal e tendo até vontade de ponderar a mudança de unidade. «Nunca tive resposta ao email. Entreguei a denúncia de contrato e nem uma palavra me deu»

«Se nada for feito para mudar este rumo, o SNS continuará a perder os seus médicos e os doentes a sofrer o peso da falta de coragem e de planificação do Ministério da Saúde».

A dois anos da reforma encontra-se Constantino Santos, de 64 anos, médico de família na USF S. Torcato, no ACES do Alto Ave (...) «Se eu quisesse desistir, já o teria feito há muito tempo. Costumo dizer que a MGF é como trabalhar num campo de refugiados: a decisão principal toma-se à porta do campo e não quando se está lá dentro».

«A ideia é que o médico é um funcionário do Estado que tem de estar disponível para qualquer tarefa. Não é intencional, é uma ignorância que tem consequências perigosas em quem tem de ver doentes. Estamos muito longe daquilo que era o nosso trabalho habitual», lastima o profissional formado pelas Universidades do Porto e de Lisboa que assegura que os médicos estão «nos centros de vacinação, nas Áreas Dedicadas aos Doentes Respiratórios, no atendimento complementar e, no tempo que sobra, preenchem declarações, grelhas e outras burocracias».

Maria João Tiago, de 51 anos, assistente graduada na USF São João da Talha, em Loures, começa por recordar que desde 2016 não existiam tantos portugueses sem médico de família (...)

«Tenho é pena que quem nos tutela não tenha a mesma vocação e não dê prioridade ao bem do doente. Em termos de ordenado, um médico assistente de MGF leva para casa cerca de 1700 euros. E se falarmos de Lisboa, uma cidade com rendas de casa altíssimas, é compreensível que as vagas fiquem por preencher. São seis anos de curso, dois de internato e mais quatro de especialidade. São pessoas com 12 anos de formação que ganham este montante», critica a profissional com 26 anos de carreira. «Há um défice de médicos de família porque as condições não são atrativas. Lisboa tem uma grande oferta em termos do setor privado

«Temos de contratar mais médicos e, acima de tudo, não os deixar sair do SNS. Eles saem e nem uma palavra lhes dão. Em centros de saúde com grande carência nem sequer os chamam e pedem para ficar. Só queremos estabilidade».

Artigo completo em Sol.
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