Público, 10 julho 2022, Carmen Garcia
E o que é que o Ministério da Saúde nos propõe agora? Um recuo de 40 longos anos onde listas de utentes sem médico de família passarão para as mãos de médicos indiferenciados, ou seja, médicos que, após este ano comum, não continuaram a sua especialização e não fizeram mais nenhum tipo de estágio ou formação.
Há quem olhe para esta solução do Governo de colocar médicos indiferenciados a fazer o trabalho de médicos de família como uma espécie de mal menor. Já eu acredito que é um mal absolutamente maior e, mais do que isso, creio ser um dos mais perigosos retalhos da manta de rotos farrapos em que se transformou o SNS.
Porque aquilo que tem de ser feito não é recorrer a este tipo de solução que, na verdade, serve para martelar números e "calar a boca” às pessoas. Aquilo que é imperativo fazer é repensar o SNS. E o primeiro passo será perceber porque é que, actualmente, apenas conseguimos fixar no sector público 60 a 70% dos médicos de família que formamos. Se a cada dez ficamos com seis ou sete, para onde estão a ir os outros três ou quatro e o que podemos fazer para os manter connosco? Parece-me que não será difícil a resposta a esta questão.