Vamos entrar em 2023 e as questões estruturais que em 2022 foram apontadas como determinantes para suster a queda paulatina do SNS para o abismo permanecem por resolver...
Os médicos e as suas organizações representativas, e o Sindicato Independente dos Médicos – SIM em particular, acolheram com expectativa as mudanças, de pessoas e de estrutura organizativa, na equipa que preside à Saúde. Pelo seu conhecimento dos problemas e do caminho para os resolver foi-lhes dado o benefício da dúvida.
Mas incompreensivelmente até coisas aparentemente tão simples como a abertura de concursos (de 2.ª época, de mobilidade, de assistente graduado sénior) permanecem paradas… as listas de espera a nível hospitalar são excessivas… as equipas médicas de urgência estão nos mínimos tecnicamente aceitáveis quando não desfalcadas...
As listas de utentes dos médicos de família continuam desmesuradas... e mesmo assim 1.400.000 portugueses permanecem sem médico de família e são prestadas 8.000.000 de horas extraordinárias.
O contrário do que deveria estar a acontecer: os Cuidados de Saúde Primários como cerne dos cuidados de saúde e o trabalho extraordinário como modalidade complementar e residual de prestação de trabalho.
A conjuntura presente de abandono acelerado do SNS por aposentação dos médicos mais experientes e/ou por troca com trabalho no privado, e a não ocupação de uma percentagem significativa das vagas de especialidade postas a concurso, impõe uma resposta célere.
É sabido haver folga e mesmo excedente orçamental. As declarações dos responsáveis e de vários interpretes na área da Saúde são unânimes: os médicos estão comparativamente (com outros grupos profissionais e externamente) mal pagos e a sua grelha salarial tem de ser revista.
No processo negocial em concurso os sindicatos médicos já apresentaram as suas propostas de grelha salarial… continuamos a aguardar pela contraproposta governamental...
Como dizia o actual Director Executivo do SNS em artigo de opinião num órgão de comunicação social enquanto ainda presidente do CA do CHUSJ, o tempo começa a escassear.