Dia do Médico (que falta) à Família
19 maio 2023
19 de Maio, Dia Mundial do Médico de Família...
O que podemos comemorar neste dia?
O esforço ingente, por vezes quase nos limites do absurdo, dos Médicos de Família que (ainda) se vão mantendo a trabalhar? A trabalhar em situações que apenas seriam justificáveis se o país estivesse na mesma situação de um campo de refugiados. E do ponto de vista emocional, para quem está no terreno, é assim que as coisas aparecem. Diariamente.
Exercer Medicina de Família em Portugal é como tentar jogar futebol debaixo de água. Os Médicos de Família estão abandonados por quem decide, soterrados diariamente por uma montanha de tarefas improdutivas, sem conteúdo clínico: relatórios, atestados, grelhas, informações repetidas, redundantes. Quilómetros de texto para alimentar o cada vez maior número de comissões, subcomissões, equipas, núcleos – exércitos de gente que não atende doentes, mas que ocupam o pouco tempo, dos poucos que ainda exercem atividade clínica.
Portanto, comemoramos o quê?
Os cada vez mais numerosos portugueses que não têm Médico de Família? Os atrasos nos concursos? A atribuição de tarefas burocráticas aos Médicos que ainda exercem?
Os cidadãos sem Médico de Família têm pior acesso aos rastreios do cancro, pior cobertura vacinal, atrasos mais relevantes em diagnósticos atempados que nos poupam a todos custos em dinheiro e sofrimento.
Os cidadãos sem Médico de Família também têm pior acesso às consultas hospitalares, aos tratamentos em tempo oportuno, às cirurgias...
Portanto, o que podemos comemorar?
A heroicidade dos que ainda se atrevem a exercer atividade clínica nos Centros de Saúde. A paciência dos portugueses que continuam à espera (até quando?) de soluções.
Para outras celebrações precisaríamos de líderes com inteligência e sentido de responsabilidade, duas espécies extintas e sem direito a proteção.
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