A par da lamentação nacional dos atrasos e dificuldades em conseguir consultas, continuam os Centros de Saúde a ser usados como minimercados, algures entre a loja de conveniência e a agência informal de documentos.
Na prática, é como se a medicina clínica tivesse deixado de ser necessária. Um mundo perfeito em que a função dos médicos de família é apenas envergar a bata e cumprir manuais de procedimento, distribuindo relatórios, atestados e declarações, benefícios sociais e "cheques-dentista”, assinar requisições de pedidos hospitalares, informar com detalhes sobre doentes que são seguidos em instituições terceiras, copiar dados entre plataformas eletrónicas que desperdiçam a informação (em vez de a concentrar).
Na prática, o treino clínico não é só considerado inútil, como possivelmente indesejável. Os doentes, para o Estado, passaram a ser invisíveis.
A última gota foi ocupar os poucos (e cada vez menos) elementos das Equipas de Cuidados de Saúde Primários com a
distribuição de fraldas e, em breve, também
pensos higiénicos. Entretanto, discute-se publicamente se as farmácias não deveriam receitar (aquilo que vendem).
Não se entende bem a má vontade, e a agressividade, com que se vai metendo paus nas rodas dos Centros de Saúde. Os tais, que se diz terem dificuldade em atrair médicos…
Médicos para quê? Para fazerem de repositores de supermercado? De solicitadores irregulares? De funcionários de loja de conveniência?
É isto que os cidadãos doentes precisam? E vai ser isto que vai atrair e fixar médicos no SNS?
E, sobretudo, quem é o responsável por isto?!