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Sindicato Independente dos Médicos

O REI VAI MESMO NU NOS CPS...

21 janeiro 2011

O Jornal Virtual publicou em 18 de Janeiro um comentário sobre a actual situação nos Cuidados de Saúde Primários. Recebemos este grito de alma que, pela sua nua crueza e emotividade, merece, extirpado de elementos identificativos, a sua divulgação a nível nacional, com a devida vénia e agradecimento...

“A propósito deste texto do SIM, lembrei-me de lhe dar conta de como nós estamos lá no caos do CS de XXXXXX . Como a parte do CS que não aderiu à USF e que, naturalmente ficou com os sem médico, tenta sobreviver. Desde um corpo de administrativos e enfermeiros quase integralmente caídos de pára-quedas, sem integração, até ao corpo médico esfrangalhado (entre reformas consumadas e eminentes, doenças prolongadas, presidente do CClínico que tem uma lista reduzida e mobilidades eminentes para USF, restamos 3 médicos que talvez fiquem no CS (os restantes estão mais para lá do que para cá). Desses 3, eu sou OF, tenho menos 6 horas de horário de consulta (de recurso) e os outros 2 são ainda dos RCTFP, tendo ambos 35 horas. Nenhum de nós quer coordenador (os outros 2 colegas aceitariam mediante um contrato como o meu e correspondente remuneração, que lhes possibilitasse a libertação de 10 horas semanais para as tarefas de coordenação) e portanto estamos tb sem coordenação. 
Até ao final de 2010 a pressão dos doentes sem médico (urgentes e não urgentes) era tal e nós tão poucos que frequentemente não havia consulta disponível, às vezes logo a meio da manhã, outras à hora de almoço ou a meio da tarde. As situações de violência multiplicavam-se e estávamos todos à beira de um ataque de nervos. Eu tive mais reclamações nos últimos meses (todas de utentes que não da minha lista e muitas de utentes que não cheguei a observar) que nos restantes 10 anos que ali estou. Então, em desespero, puseram-nos lá um tarefeiro não MF. Confesso que fui a favor, e não me arrependo, apesar de todas as reservas que ponho à sua capacidade técnica. Ele assegura que nunca mais ninguém se vai embora sem uma consulta, é extremamente rápido e acabou aquele clima de guerra permanente que ali se vivia. Com as mudanças da USF o meu gabinete é agora no meio da consulta de recurso e eu vivia aquilo diariamente, começava a tremer sempre que havia gritos e nunca tinha usado o botão de pânico que desde 2005 temos nos consultórios, mas naquela época fiquei experimentadíssima no seu uso. Agora isso acabou. 
Depois de uma guerra suponho que ficamos menos exigentes e, agora, que tenho comigo a administrativa mais antiga do CS e, há 1 semana, até uma enfermeira de equipa, sinto que estou quase no céu... Isto apesar de não ter um gabinete para a minha interna do 3º ano trabalhar (quando tenho ainda uma outra do 1º e outra que vai fazer exame agora). Isto apesar de temer as retaliações por não aceitar ser coordenador nem assumir uma das milhares de tarefas que nos querem impingir (querem 1 interlocutor de qualidade, querem 1 responsável disto e outro daquilo e ninguém tem tempo). Isto apesar de, pela 1ª vez em quase 11 anos, me obrigarem a fazer a minha agenda com intervalos de consulta e outros itens "normalizados", não interessando se tenho bons indicadores de acessibilidade e até atirando-me à cara publicamente em reunião o contrário. Apesar de tudo estou quase no céu. Mas confesso que temo que a minha resiliência tenha um limite no futuro.
Do nosso conselho clínico não temos qualquer notícia desde a sua formação, tudo é tratado pelo director executivo e daí tb que a componente clínica institucional seja difícil de vislumbrar no nosso horizonte.”

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