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Sindicato Independente dos Médicos

Ninguém se vai sujeitar nem por uns «lindos olhos do serviço público»

21 julho 2011

Médicos com reforma antecipada dizem que não compensa regressar ao SNS

Tédio e vontade de sentir a adrenalina foram motivos que levaram médicos com reforma antecipada a regressarem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas feitas as contas os especialistas dizem que não compensa o regresso.

Em entrevista à Agência Lusa, o clínico geral e de medicina familiar Manuel Godinho, reformado há pouco mais de um ano e a trabalhar no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) em Faro, conta que regressou à medicina «essencialmente por tédio» e para aproveitar o incentivo por parte do Estado.

«Soube que o INEM tinha falta de médicos e já estava a precisar desta adrenalina», confessa o clínico Manuel Godinho, que sempre gostou da área da Saúde Pública.

Manuel Godinho é um dos mais de 250 médicos reformados que regressaram ao trabalho no SNS, ao abrigo de um diploma que permite aos clínicos aposentados continuarem a exercer funções, em vigor há um ano, que se assinala esta sexta-feira. Em 2009 e 2010 aposentaram-se mais de mil médicos.

Os médicos que se aposentaram recentemente e que pediram reingresso na carreira, já começam, todavia, a fazer contas, verificando que não compensa.

«Quiseram cortar nas despesas do Estado e começaram com a história do 'numerus clausus', depois foi o convite para a pré-reforma e agora faltam médicos nos serviços», contou à Lusa Joaquim Cravo, especialista em ginecologia e obstetrícia e ex-chefe de Serviço no Hospital Central de Faro.

Joaquim Cravo, que cumpriu 30 anos no SNS e se reformou aos 55 anos, decidiu pedir antecipação na reforma, porque estava «saturado com alguma falta de reconhecimento».

«Como a idade actual da reforma vai passar para os 67 anos, se eu me reformasse aos 60 ficaria com sete anos de antecipação na mesma e mais seis por cento de penalização ao ano, o que perfazia 42 por cento de penalização. Não me compensava», explicou Joaquim Cravo, 57 anos , que teve 31,5 por cento de penalização na reforma.

A reforma de um médico, por antecipação, ronda os 1.300 euros. Se voltasse ao SNS passaria a ter um contrato de 35 horas semanais e a receber mais 600 euros líquidos.

Para aquele especialista, regressar «nestas condições, só se justificava se recebesse a reforma na totalidade e celebrasse um contrato com condições a combinar». «É que ainda tenho 57 anos, fui chefe de serviço e gosto muito da minha profissão», argumenta.

Em relação aos números que têm sido apresentados pelo Ministério da Saúde, o especialista alerta para a existência de alguma «trapalhada».

«Uma coisa são os despachos favoráveis do Ministério da Saúde e outra é o número de médicos que efectivamente voltaram ao SNS», defende, alertando que «na hora de pesar os prós e os contras, são muitos os médicos que arrepiam caminho e voltam atrás».

O médico sublinha que ninguém se vai sujeitar nem por uns «lindos olhos do serviço público», nem para sair da «boa vida da reforma» para o sacrifício das 35 horas semanais, com fins-de-semana à mistura e responsabilidade.

«Só valeria a pena com uma boa contrapartida, e não é o caso», insistiu Joaquim Cravo, sublinhando a má opção por parte do Estado em contratar empresas privadas de prestação de serviços.

«Ficava mais barato à administração fazer contratos directamente com os médicos reformados, do que com certas empresas particulares que cobram 80 euros à hora (50 ficam para o médico e 30 para a empresa). Agora imagine em quanto não fica uma urgência. É multiplicar esse valor por 24 horas», acrescentou o médico.

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