Médicos com reforma antecipada dizem que não compensa regressar ao SNS
Tédio e vontade de sentir a adrenalina foram motivos que levaram médicos com reforma antecipada a regressarem ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas feitas as contas os especialistas dizem que não compensa o regresso.
Em entrevista à Agência Lusa, o clínico geral e de medicina familiar Manuel Godinho, reformado há pouco mais de um ano e a trabalhar no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) em Faro, conta que regressou à medicina «essencialmente por tédio» e para aproveitar o incentivo por parte do Estado.
«Soube que o INEM tinha falta de médicos e já estava a precisar desta adrenalina», confessa o clínico Manuel Godinho, que sempre gostou da área da Saúde Pública.
Manuel Godinho é um dos mais de 250 médicos reformados que regressaram ao trabalho no SNS, ao abrigo de um diploma que permite aos clínicos aposentados continuarem a exercer funções, em vigor há um ano, que se assinala esta sexta-feira. Em 2009 e 2010 aposentaram-se mais de mil médicos.
Os médicos que se aposentaram recentemente e que pediram reingresso na carreira, já começam, todavia, a fazer contas, verificando que não compensa.
«Quiseram cortar nas despesas do Estado e começaram com a história do 'numerus clausus', depois foi o convite para a pré-reforma e agora faltam médicos nos serviços», contou à Lusa Joaquim Cravo, especialista em ginecologia e obstetrícia e ex-chefe de Serviço no Hospital Central de Faro.
Joaquim Cravo, que cumpriu 30 anos no SNS e se reformou aos 55 anos, decidiu pedir antecipação na reforma, porque estava «saturado com alguma falta de reconhecimento».
«Como a idade actual da reforma vai passar para os 67 anos, se eu me reformasse aos 60 ficaria com sete anos de antecipação na mesma e mais seis por cento de penalização ao ano, o que perfazia 42 por cento de penalização. Não me compensava», explicou Joaquim Cravo, 57 anos , que teve 31,5 por cento de penalização na reforma.
A reforma de um médico, por antecipação, ronda os 1.300 euros. Se voltasse ao SNS passaria a ter um contrato de 35 horas semanais e a receber mais 600 euros líquidos.
Para aquele especialista, regressar «nestas condições, só se justificava se recebesse a reforma na totalidade e celebrasse um contrato com condições a combinar». «É que ainda tenho 57 anos, fui chefe de serviço e gosto muito da minha profissão», argumenta.
Em relação aos números que têm sido apresentados pelo Ministério da Saúde, o especialista alerta para a existência de alguma «trapalhada».
«Uma coisa são os despachos favoráveis do Ministério da Saúde e outra é o número de médicos que efectivamente voltaram ao SNS», defende, alertando que «na hora de pesar os prós e os contras, são muitos os médicos que arrepiam caminho e voltam atrás».
O médico sublinha que ninguém se vai sujeitar nem por uns «lindos olhos do serviço público», nem para sair da «boa vida da reforma» para o sacrifício das 35 horas semanais, com fins-de-semana à mistura e responsabilidade.
«Só valeria a pena com uma boa contrapartida, e não é o caso», insistiu Joaquim Cravo, sublinhando a má opção por parte do Estado em contratar empresas privadas de prestação de serviços.
«Ficava mais barato à administração fazer contratos directamente com os médicos reformados, do que com certas empresas particulares que cobram 80 euros à hora (50 ficam para o médico e 30 para a empresa). Agora imagine em quanto não fica uma urgência. É multiplicar esse valor por 24 horas», acrescentou o médico.
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