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Sindicato Independente dos Médicos

Carta aberta às ARS sobre desvio intolerável dos Médicos de Família das suas funções

12 junho 2021
Carta aberta às ARS sobre desvio intolerável dos Médicos de Família das suas funções
Exmo. Senhor Presidente,

No decurso da reunião de trabalho, do dia 26 de maio, que teve lugar no Ministério da Saúde, entre o Senhor Secretário de Estado Adjunto e da Saúde e os dirigentes dos Sindicatos Médicos, entre outros candentes temas foi discutida a questão do prolongado e massivo desvio de trabalhadores médicos dos cuidados de saúde primários das suas tarefas primordiais para assegurarem o apoio à operação nacional de vacinação contra o SARS-CoV-2.

O Senhor Secretário de Estado referiu que as ARS do país, em conjunto, informaram o Governo de que o total de trabalhadores médicos da área de exercício profissional da MGF seria de cerca de 600 elementos afetos àquela missão.

Ora, aquilo que no terreno se constata, é algo de bem diferente. O número de trabalhadores médicos – sobretudo agora que decorre a vacinação diária de mais de 100.000 cidadãos – não está assegurado por, apenas, 600 de entre nós. Não, o número é bem superior, como facilmente se pode apurar em cada ACES.

Sabem-nos os trabalhadores médicos; sabem-no os seus utentes, com ou sem médico de família atribuído; sabem-no também os demais profissionais das equipas de saúde familiar, analogamente retirados do seu exercício profissional quotidiano.

Visto isto, ou a informação prestada ao Governo está negligentemente errada ou assiste-se à construção de uma deliberada fantasia sobre a realidade assistencial que se vive em Portugal, como aliás o SIM tem vindo a denunciar, razão por que se dispensa de a reeditar aqui.

Os nossos doentes não são acompanhados, avultando nisso a não realização de consultas, a indefinida e já catastrófica postergação de rastreios, o não início de terapias, o desacompanhamento dos casos de doenças crónicas, a ausência de vigilância das respetivas complicações, etc.

Importa, mais do que tudo, ordenar o imediato regresso dos trabalhadores médicos aos seus postos de trabalho, para que aí – onde são insubstituíveis – continuem a poder prestar os cuidados de saúde diferenciados próprios da sua especialidade médica. Se isso implicar, como implicará, mais contratações, pois encete-se os procedimentos concursais indispensáveis; e até lá, determine-se a prestação de trabalho suplementar, nos termos legais e nos volumes horários que se revelem necessários e suficientes. Uma única coisa não se pode perpetuar: persistir no desguarnecimento dos já tão depauperados quadros de trabalhadores médicos de medicina geral e familiar para que estes, dentro do seu período normal de trabalho, continuem a atuar no âmbito da operação nacional de vacinação contra o SARS-CoV-2, com direto prejuízo do seu múnus, isto é, da salvaguarda da saúde dos portugueses, em todos os demais aspetos que este inestimável bem comporta.

O SIM bem sabe, o Governo não ignora, e essa ARS não estará certamente olvidada, que a resposta dos trabalhadores médicos sempre foi positiva e irrestrita, de cada vez que lhes é determinado um sobreesforço, por razões que compreendam e comunguem; aquilo que se não aceita é uma política de saúde que, ao fim e ao cabo, procura apenas tapar o sol com uma peneira ou, se se preferir, que almeja apenas proteger uma parte de um corpo em necessidade crítica, desguarnecendo, cruelmente, há que dizê-lo, as restantes.

Apelamos, portanto, à reformulação, muito urgente, das opções que têm estado presentes no terreno, pelas acima apresentadas razões.

Os nossos associados estão disponíveis para o sacrifício, como está demonstrado à saciedade no decurso desta pandemia da COVID-19, mas rebelam-se legitimamente ao assistir à, em absoluto desnecessária, imolação dos mais altos interesses – a vida e a saúde – dos nossos concidadãos, os quais acompanham desde antes do seu nascimento e até à morte, como constitui o timbre da medicina geral e familiar, no quadro do Serviço Nacional de Saúde.
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