Sindicato Independente dos Médicos

Em Portugal, trabalharam muito mais do que as 40h contratualizadas, muitas vezes sem remuneração, com elevado grau de autonomia e significativo investimento pessoal e financeiro na sua formação.

São dados de um estudo, promovido pelo SIM e desenvolvido em colaboração com o SIM-Internos, e que foi apresentado a 11 de janeiro na NOVA Medical School, numa sessão em que marcou presença o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.

Os resultados revelam, ainda, falta de investimento na melhoria das condições de trabalho, empurrando os Médicos Internos para a emigração e colocando em causa a sustentabilidade do próprio sistema de saúde português.

"Basta de indefinições e do arrastar de decisões estratégicas para o país”, afirma o Secretário-Geral do SIM.

"Apostar na formação médica, pré e pós-graduada, é apostar no SNS. E apostar no SNS é apostar no país”, por isso, garante Jorge Roque da Cunha, o SIM continuará "a apoiar e a valorizar os médicos associados e a defender a carreira médica e o SNS”.

"Mas não nos podemos esquecer que a formação contínua dos profissionais do SNS é uma responsabilidade, claramente plasmada na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, mas infelizmente não assumida, do Estado!”, acusa.

A realidade escondida do internato médico
O estudo demonstra, ainda, que:

- Verificam-se 20h mensais de horas extra não pagas (mediana);

- Cerca de um terço faz turnos de 24h;

- Mais de um quarto faz turnos no SU sem um Médico Especialista presente;

- Há autonomia total na execução das funções sem a presença física de orientador;

- A autonomia aumenta ao longo do internato;

- Os Internos da região Sul apresentam maior nível de autonomia;

- Os Internos da especialidade de MGF têm maior autonomia;

- Há disparidades regionais relativamente a turnos de urgência e horas extra;

- Verificam-se 2 dias de descanso compensatório por gozar (mediana);

- Os Internos da região Sul têm maior probabilidade de ter mais dias de descanso compensatório por gozar;

- Os mais avançados no internato apresentam as maiores despesas em formação, com 40,8% a suportarem gastos superiores a 1.500€ anuais.

Os investigadores destacam a elevada representatividade da amostra (2.012 participantes), que incluiu quase 20% dos Médicos Internos portugueses (10.265 no ano de 2020) de todas as especialidades.

Leia o estudo completo "Medical residency in Portugal: a cross-sectional study on the working conditions”.

SIM apoia a formação médica
O SIM contribuiu para a realização deste estudo em resultado da sua preocupação com o impacto das condições de trabalho na formação médica pós-graduada.

"Ao fazê-lo, pretendemos caminhar para melhorar essas condições, cruciais à prestação de cuidados de saúde de qualidade no SNS”, refere Jorge Roque da Cunha.

Só este ano, o SIM irá apoiar os Médicos Internos com 150.000€ através do seu Fundo de Formação. A medida abrange a participação em congressos, cursos, workshops e estágios.

A estratégia de qualificação dos médicos associados inclui, ainda, o "apoio na obtenção de certificados de competência pedagógica e um programa de bolsas formativas na área da gestão em serviços de saúde destinado a médicos especialistas”, anuncia o Secretário-Geral do SIM.

E os dados são claros: "Mais de 500 médicos internos já beneficiaram do referido Fundo de Formação e, em escassos três anos, também cerca de 300 médicos usufruíram de uma bolsa no âmbito da obtenção de certificado de competências pedagógicas, tendo quase 60 médicos especialistas sido abonados com uma bolsa para cursos de gestão em serviços de saúde com critérios de idoneidade pelo Colégio da respetiva competência da Ordem dos Médicos”.

"Para um país progredir, é essencial apostar na formação. Para a Medicina progredir, é fundamental apoiar a sua formação pré e pós-graduada”, conclui Jorge Roque da Cunha.

 Saiba mais sobre o Fundo de Formação do SIM.