Público, 7 novembro 2019, Ana Maia
Os médicos e os enfermeiros portugueses viram os seus ordenados baixarem em sete anos, ao contrário do que aconteceu com vários países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE). Os dados fazem parte do relatório
Health at a Glance 2019, divulgado esta quinta-feira por esta organização.
O relatório avalia a evolução das remunerações entre 2010 e 2017 de médicos especialistas e médicos de família/clínica geral e compara o percurso salarial da Áustria, Bélgica, Canadá, Estónia, Finlândia, França, Hungria, Israel, Luxemburgo, México e Portugal. Destes 11 países, apenas Portugal registou uma descida. Quer médicos de família como especialistas [hospitalares] estavam a ganhar menos em 2017 do que ganhavam em 2010.
No caso da Hungria, explica o documento, o governo "aumentou substancialmente as remunerações desde 2010, com os rendimentos dos médicos de clínica geral a crescer cerca de 80% entre 2010 e 2017 e o dos especialistas a quase duplicar” com o objectivo de reduzir a escassez e a emigração de clínicos. A medida teve efeitos. Segundo a OCDE, entre 2017 e 2018 o número de médicos húngaros a pedir o certificado para poder trabalhar no estrangeiro diminuiu mais de 10%.
Em Portugal, os baixos salários e a degradação das condições de trabalho têm sido duas das razões apontadas por sindicados e Ordem dos Médicos para o aumento de saída de profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para muitos a opção tem sido trabalhar no privado, mas para outros o estrangeiro torna-se cada vez mais atractivo. Nos primeiros seis meses deste ano, as três secções da Ordem dos Médicos tinham assinado, segundo dados publicados pelo Diário de Notícias, perto de 400 certificados, o triplo de 2018.