Público, 13 novembro 2021, Moisés Ferreira
Faltam profissionais ao Serviço Nacional de Saúde. É um facto indesmentível e mensurável no dia a dia dos utentes e dos profissionais do SNS.
São carências que têm consequências: serviços de urgência que encerram por dificuldade em fazer escalas, especialidades com longuíssimas listas para consulta e cirurgia.
Perante esta realidade, o Governo e o PS encolhem os ombros e têm repetido: não há médicos para contratar. Aceitam, por isso, que é uma fatalidade o SNS ficar à míngua, os médicos de família não serem para todos os utentes, os hospitais não conseguirem completar escalas, os blocos operatórios não poderem funcionar.
No debate orçamental, a ministra da Saúde repetiu o argumento. Disse: "Compramos cerca de 5 milhões de horas de trabalho suplementar a empresas prestadoras de serviços e transformar isso em contratação de médicos significaria contratar mais 3500 médicos de que o país não dispõe”.
O argumento tem um problema: não é verdadeiro.
Em dezembro de 2020 existiam 57.976 médicos inscritos na Ordem. Apenas metade dos médicos inscritos na Ordem estão efetivamente a trabalhar no SNS.
Não é verdade que o país não tenha mais médicos ou que não seja possível contratar mais. O problema principal é que o SNS não está a conseguir atrair médicos, nem sequer está a conseguir fixar todos aqueles que forma.